20/10/2009

O meu vício


“O que a Fotografia reproduz ao infinito só ocorreu uma única vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais vai poder se repetir existencialmente”. (Roland Barthes)


A fotografia é capaz de apropriar-se de um momento e retratá-lo com a dimensão de um olhar, de um foco, de uma aproximação inadvertida da existência.
Ao apropriar-me dela, eu busco ângulos, formas, linhas e contornos. Mais do que isso, procuro tocar o instante, o qual está ali a um clique da mão. Vejo, sinto e retrato, como se o melhor pudesse ser guardado, contido, impresso para a eternidade.
Às vezes, penso que a fotografia é o meu grande vício, o meu gozo, uma espécie de deleite secreto.
Ela esclarece as memórias e as imagens, o quê as palavras por vezes esforçam-se por retratar e simplesmente não conseguem.
Tão viciada que sou, apego-me aos retratos como se eles fossem as provas reais daqueles momentos, que continuam vivos dentro de mim. Muitas vezes, apego-me a elas na tentativa vã de matar a saudade de algo que passou. São as fotografias que elucidam-me quem fui, por onde viajei, as pessoas que tive a oportunidade de conhecer, as que me fizeram crescer, as que me fizeram sofrer e aquelas que são um bocadinho responsáveis pelo que sou.
Embriago-me com as paisagens, viajo com cenas simples, detecto reflexos e espelhos em objetos, percebo tudo ao meu redor como se tivesse nascido hoje. Porque vivo, sinto, medito e gosto muito de sentir-me assim: desperta para o mundo.

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