16/09/2014

Chapado no bobódromo

Av. João Antonio, Sobradinho/RS.
Todo santo domingo, o cara ia chapado ao bobódromo, com o seu visual fashion, rapper ou funkeiro, rocker ou retrô, boyzinho ou metida,  o humilde agricultor que ascende socialmente e aquele que se acha esperto, mas na realidade pode ser um trouxa. Esse cara pode ser qualquer um de nós, com sua terrível necessidade de aparecer no Centro e mostrar o seu novo modelo de carro, o seu smartphone ou seu tênis de marca. Talvez o seu pensamento, a sua postura e a sua necessidade de falar, tudo ao mesmo tempo, interconectados. Nesse cotidiano interiorano, observamos tantos cenários. Casa, escola, prefeitura, empresas, lojas e instituições. Tanta comunicação ou falta dela. Email, celular, sms, rádio, internet, facebook, twitter, linked in, whats app, skype e messenger. Tantos meios de chegar ao centro: de carro, de moto, a pé, de bicicleta ou de ônibus. Tantos modelos, paradigmas, opiniões e universos.
O cara ouve uma música, posta um vídeo... Escuta opiniões alheias no rádio, concorda ou opõe-se a elas, naturalmente. Acontece que logo esquece-se disto, pois a pauta renova-se, e as circunstâncias seguem alterando os pequenos espetáculos. Dias de lida e outros de descanso. Conciliando ou não o seu trabalho com as suas verdadeiras necessidades, sejam elas físicas ou intelectuais, como tomar um chimarrão, frequentar a academia, planejar um jantar, cuidar de si mesmo e dos seus. Prioridades do momento ou de uma vida inteira. Quem sabe, curtir a balada, ir ao pub, tomar umas e outras, aquelas que a sua saúde permitir.
Esse cara poderia ser qualquer um de nós. Pobre ou rico, feliz ou triste, vindo da cidade ou do interior, curtindo funk ostentação, bandinha, pagode, gauchesca, rap, rock, dance ou sertanejo universitário. Todo mundo, pelo menos um dia em sua vida, já saiu chapado no bobódromo. Digo isso com a prerrogativa de que a sua droga possa ser você mesmo, ou seja, o seu ego.
Centro de Sobradinho/RS. Fonte: Blog da Casa da Cultura
O seu consumismo desenfreado, aliás, o nosso, resulta em lixo que, após o uso e seu descarte, torna-se renda para outras pessoas ou talvez apodreça em lixões, estejam eles em que condições estiverem. Estamos chapados pela realidade de comprar, cada vez mais. Entre tantas tarefas urgentes, e algumas prioridades de fato, ter, consumir, beber, comer e selfizar-se tornaram-se preponderantes. O automatismo de nossas ações reverbera em posts alienados nas redes sociais. Dito isto, fazer uma selfie num velório tornou-se algo normal ou coloquial em nossa sociedade? Percebo esse comportamento como o retrato da imbecilidade humana.
Chapar-se, nesse caso, pode ter alguma ligação com nosso estado, deambulante, andando em círculos, alheios ao mundo real, à natureza, às relações e ao estado de coisas que não estejam intrinsicamente vinculados ao "poder de ter". Ao invés de cultivarmos o verbo "ter"... sobrevivo filosoficamente buscando o "ser", "estar", "parecer" ou "mover-se". Contra ou seguindo a corrente, encarar o presente.
Vivemos em uma bolha. De alguma forma, dimensões paralelas, talvez vivamos iludidos com a realidade a qual supomos existir. Estamos chapados, andando em círculos, diante da mesmice da vida, do sarcasmo, da maldade alheia, da estupidez multiplicada ao infinito. E quem sabe, num breve momento, possamos acordar, olharmo-nos e permitirmo-nos a sair da bolha. No meu caso, por ora, para refletir e aventurar-me na escrita.

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