29/10/2009

O meu LAR aos 30 anos


Sem mais nada para roer ou mastigar, finalmente deixo o meu cérebro fazer o seu trabalho. Não há mais chocolate light no armário da cozinha, também terminaram todos os saquinhos de cappuccino descafeinado. Não tem jeito, chegou mesmo a hora de escrever.
Caros leitores, só sei escrever assim, visceralmente. Infelizmente já não posso dizer que isto é coisa de uma garota de 20 e tais anos. Também não há drama, não chega a dar enredo de telenovela ou fazer a gente chorar lavando louça. É que amanhã eu avanço para a casa dos 30. Presumo que talvez possa vos interessar algumas “pérolas” que passam pela cabeça de uma pré-balzaquiana em crise existencial.
Há quem diga que a mulher aos 30 anos torna-se muito mais atraente, mais segura, enfim, mais tudo! Espero bem que sim. Veja bem, dia 31 de outubro é Halloween nos EUA, não deve ter sido à toa que nasci neste dia. Considero-me bruxa em certa medida. Quem sabe uma bruxa das palavras e das imagens. E onde vive esta bruxa? A LARissa possui um LAR contido em seu nome. Sobrevive apenas literariamente, num LAR criativo, onírico e existencial apenas seu. Alimenta-se de literatura, fotografias, design, música, viagens, etc. Também não dispensa chocolates belgas, queijos suíços e vinhos, de todas as nacionalidades.
Aos 15 anos eu queria ter 30. Hoje eu não quero ter nada. Apenas “estou” e sou parte deste LAR incrível que inventei. Hoje, amanhã e depois - se houver depois.
Eu estou chegando nos 30, mas continuo super ativa, com o corpo e a mente em forma, e cheia de vontades, ideias, conhecimentos, etc. Mas há certos momentos em que a única coisa que se passa em minha cabeça é que um dia toda esta jovialidade acabará. Então, aos 30 e poucos fazemos naturalmente algumas escolhas que determinam os 40, e assim por diante…
Meditar sobre a impermanência da vida é algo que pode-se fazer em qualquer idade. De início pode causar-nos uma certa angústia e até um pouco de medo. Alguns receiam que falar da morte pode antecipá-la. Para mim, Isto é cultural, apenas um mito. Falar sobre a morte é ter consciência da única coisa certa nesta vida (e todas as outras que vierem depois). Enfim, todos nós morreremos um dia.
Contemplar sobre a aproximação da morte pode alterar as nossas prioridades nesta vida e nos ajuda a abrir mão do movimento obsessivo por coisas ordinárias.
O que eu não quero mesmo é fazer coisas ordinárias neste novo ciclo. Posso começar um ciclo de uma forma mais consciente. Afinal, acredito que todas as coisas as quais baseamos a nossa experiência são apenas um “cintilar de mudança”, ou seja, não permanecem. Isso talvez nem seja assim uma grande “peróla”, mas é o limiar dos 30 anos neste meu LAR. Que é mesmo grande, ventilado, cheio de cores e aberto aos prazeres e ilusões deste mundo.

20/10/2009

O meu vício


“O que a Fotografia reproduz ao infinito só ocorreu uma única vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais vai poder se repetir existencialmente”. (Roland Barthes)


A fotografia é capaz de apropriar-se de um momento e retratá-lo com a dimensão de um olhar, de um foco, de uma aproximação inadvertida da existência.
Ao apropriar-me dela, eu busco ângulos, formas, linhas e contornos. Mais do que isso, procuro tocar o instante, o qual está ali a um clique da mão. Vejo, sinto e retrato, como se o melhor pudesse ser guardado, contido, impresso para a eternidade.
Às vezes, penso que a fotografia é o meu grande vício, o meu gozo, uma espécie de deleite secreto.
Ela esclarece as memórias e as imagens, o quê as palavras por vezes esforçam-se por retratar e simplesmente não conseguem.
Tão viciada que sou, apego-me aos retratos como se eles fossem as provas reais daqueles momentos, que continuam vivos dentro de mim. Muitas vezes, apego-me a elas na tentativa vã de matar a saudade de algo que passou. São as fotografias que elucidam-me quem fui, por onde viajei, as pessoas que tive a oportunidade de conhecer, as que me fizeram crescer, as que me fizeram sofrer e aquelas que são um bocadinho responsáveis pelo que sou.
Embriago-me com as paisagens, viajo com cenas simples, detecto reflexos e espelhos em objetos, percebo tudo ao meu redor como se tivesse nascido hoje. Porque vivo, sinto, medito e gosto muito de sentir-me assim: desperta para o mundo.