Se um dia pudesse estancar o
medo, a angústia e até as crises existenciais, também terminaria com o motor
que produz e instiga as mudanças. Não existem pedras no meio do caminho que não
sejam bem mais do que pedras. Algumas decepções são mais do que acepções a
respeito de uma verdade somente minha ou tua. São propulsores de decisões, de
entradas em espaços vazios, onde podemos estar, sem nenhum entendimento.
Quando o dia está cinza e, dentro
de nós, impera a reflexão, observamos a noite fazer casa e o escuro talvez possa
esconder uma paleta de cores inimaginável. Ao nos debruçarmos por uma constelação
de possibilidades que podem nos instigar e até nos tirar do conforto ao qual
estamos tão acostumados, intensificamos os nossos sentidos e podemos admitir
que desejamos viajar, tocar o invisível e viver o que sonhamos, aquilo que de
fato desejamos.
Os desejos são caminhos
bifurcados, nos possibilitam tanto o prazer quanto o sofrimento. Podemos viver
num limbo entre o receio do sofrimento e o anseio pelo prazer, ou apenas decidimos,
por ora, sublimar o desejo. Desde as decisões mais simples, como ceder à
tentação de comer um chocolate ou saciar-se com um jantar delicioso, porém
muito calórico, até as decisões que estão ligadas a juízos morais e sociais,
como a escolha de parceiros, ou a entrega a vícios sejam eles quais forem, caminhos
que envolvam mais prazer e menos sacrifício.
Todas as escolhas são marcadas
por anseios, metas, desafios, enfim, tantos nomes para um mesmo desejo inicial
que se traveste de palavras rebuscadas. Um desejo simples que instiga uma
motivação e esta, por sua vez, delibera uma ação que desencadeia outras...
Somos surpreendidos com os nossos pensamentos porque estes desencadeiam ações,
assim como quando o nosso lado racional impera sobre o emocional, em algum
momento ficamos aturdidos com o que surge do lado obscuro, com o qual todos nós
temos contato em algum momento de nossas vidas. Do tal inconsciente, aquele que
desejamos afastar, atolados pelos deveres e estares comuns. Um belo dia, da avassaladora
experiência, nasce uma rosa, de onde cinzas padeciam em silêncio.
Tantos paradoxos. E mesmo no
sacrifício, pode-se sentir prazer. E mesmo no sofrimento, observa-se
crescimento. Na escolha sempre reside um poder, uma potência que todos nós
temos. A vida segue, enquanto novas cinzas acumulam-se e outras flores vão
despontando, ciclicamente.
Fotografia: Rosa no Porto, Portugal. Larissa Scherer
Fotografia: Rosa no Porto, Portugal. Larissa Scherer